CAMPOS MAGNÉTICOS
Diogo Evangelista
Campos Magnéticos, a segunda exposição de Diogo Evangelista na Galeria Francisco Fino, exibe um novo corpo de trabalho em pintura, vídeo e instalação. No ambiente que configurou, o artista apresenta uma seleção de obras que reforçam o seu interesse no conceito de exposição como um lugar generativo, espaço interior, bem como uma paisagem puramente mental de experimentação e de teste à realidade tangível. Concebido como uma experiência espácio-temporal, o conjunto de obras, na sua maioria inéditas, conduz o visitante numa viagem entre imagens fixas e em movimento — num universo em mutação, composto por diferentes organismos em fluxo.
Farewell to Earth é uma série de nove pinturas em acrílico, em forma de pentagrama. Várias sociedades antigas e contemporâneas compreendem o pentagrama como símbolo de transformação, renascimento, e de relação entre os seres humanos e o Universo. Pintadas no verso com partículas líquidas de crómio, as peças adquirem as características de um espelho — devolvendo-nos assim a presença física num espaço virtual, incorporando-a num lugar irreal, sem geografia. Esta experiência é intercetada pela reprodução de um conjunto de ícones urbanos, com os quais o artista convive diariamente. Ruído visual, quase invisível, que aqui ganha lugar.
The One and The Others é o elemento de ligação à sua exposição anterior (Íris, Brotéria, 2021), cuja presença reforça a ideia de uma exposição contínua, que integra vários universos, numa progressão de interações — uma narrativa fragmentada em diferentes episódios. A obra consiste numa escultura de luz composta por nove elipses que remetem para a ideia de sistema. Concebida com base num conjunto de desenhos produzidos pela máquina Spiritual Automata, apresentados na galeria em 2019, a peça parte da existência hipotética de um planeta no sistema solar, até hoje desconhecido. Esta visão cósmica, igualmente metafórica, remete-nos para uma reflexão acerca das dinâmicas, comportamentos e identidade de grupo dentro de um sistema. Enquanto algumas formas parecem estar isoladas, outras aparecem no anonimato do conjunto. Ainda assim, só podem existir numa interdependência entre elas.
Bonus é um fantasma que integra a narrativa da exposição de uma forma intermitente e intercalada com as restantes peças. É um momento hiper-real que acompanha em direto o progresso da International Space Station (ISS) em torno do planeta Terra, a uma velocidade de cerca de 27.000 km/h, orbitando 16 vezes por dia, 90 minutos por volta. Evangelista apropriou-se do live-stream contínuo, emitindo-o em direto e em grande escala, a cada 45 minutos. Esta transmissão é acompanhada por uma banda sonora que resulta de uma abstração expandida de uma versão da música Because dos Beatles, atribuindo desta forma um caráter melancólico à experiência — não só de um ponto de vista ambiental em relação ao planeta Terra, mas também face a todas as relações políticas e sociais que hoje se encontram em rutura. A ISS foi um símbolo de união desde os anos 90, resultado de um esforço de várias nações (hoje divididas) numa curiosidade comum.
Ylem the Egg (HD vídeo, cor, som, 8 min) obra que encerra a cosmologia da exposição, retrata a eclosão de uma das maiores aves do planeta. Através de uma narrativa ficcional em torno do ovo e do pássaro, este vídeo sugere uma viagem a um período jurássico, aos conceitos de princípio e de origem, ao big-bang, e à relação entre interior e exterior a diferentes escalas. Ylem não só foi o nome atribuído em laboratório ao ovo representado no vídeo, como também é o termo utilizado para designar a “matéria primordial” que se acreditava ser o conteúdo do Universo na origem da sua formação. Aquilo que em várias mitologias antigas foi denominado ‘ovo cósmico’.